CÍCLICO
Pergunto à água — o que sou?
Água que entra pela terra e some.
Pergunto ao chão — o que sou?
Chão que esconde os ossos já desfeitos.
Pergunto ao vento — o que sou?
Vento, voz a lutar inutilmente
contra o silêncio e a neve.
Pergunto à luz — o que sou?
Luz que me devora e não se apaga.
Pergunto ao céu — o que sou?
Céu, refrigério da minha punição.
[De A barreira do silêncio]
JOANA D’ARC
Vinde, pois, chamas purificadoras
queimar, com a minha carne, as cadeias
que me prendem. Suportarei o martírio até
a fogueira tornar-se refrigério
e o terror meu êxtase.
[De Novos poemas]
SATYRICON
Perguntaram à baleia
se queria morrer
para transformar-se numa lépida
criatura do ar.
Ela respondeu: “Jamais!”
Queria mesmo era ficar para sempre
na segurança do seu líquido elemento,
uma baleia apenas, nada mais.
“Uma baleia por toda a eternidade! — exclamou alguém.
— Mas isso é monstruoso.
Se ao menos fosse, como eu,
um hipopótamo!”
[Idem]
Pergunto à água — o que sou?
Água que entra pela terra e some.
Pergunto ao chão — o que sou?
Chão que esconde os ossos já desfeitos.
Pergunto ao vento — o que sou?
Vento, voz a lutar inutilmente
contra o silêncio e a neve.
Pergunto à luz — o que sou?
Luz que me devora e não se apaga.
Pergunto ao céu — o que sou?
Céu, refrigério da minha punição.
[De A barreira do silêncio]
JOANA D’ARC
Vinde, pois, chamas purificadoras
queimar, com a minha carne, as cadeias
que me prendem. Suportarei o martírio até
a fogueira tornar-se refrigério
e o terror meu êxtase.
[De Novos poemas]
SATYRICON
Perguntaram à baleia
se queria morrer
para transformar-se numa lépida
criatura do ar.
Ela respondeu: “Jamais!”
Queria mesmo era ficar para sempre
na segurança do seu líquido elemento,
uma baleia apenas, nada mais.
“Uma baleia por toda a eternidade! — exclamou alguém.
— Mas isso é monstruoso.
Se ao menos fosse, como eu,
um hipopótamo!”
[Idem]
[In PAES, José Paulo (seleção e tradução). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 251].
Hébe Koúyia Skandaláki, cujo nome literário era Melissânthi, nasceu em Atenas em 1910, onde fez os seus estudos. Passou algum tempo num sanatório da Suíça tratando-se de tuberculose, e de volta a Atenas dedicou-se ao magistério e ao jornalismo. Além da poesia, cultivou a música e a pintura. Traduziu para o grego poetas americanos (Robert Frost, Emily Dickinson) e franceses (Verlaine, Pierre Garnier). O seu livro de estreia, Vozes de Inseto [Fonés Entornou], é de 1930. A ele se seguiram, nos anos subsequentes, dez outros, entre os quais O Retorno do Pródigo [Gyrismós toü Asótou, 1936], Forma Humana [Anthrópino Sxíma, 1961], A Barreira do Silêncio [Tò Fragma tís Siopís, 1965] e Novos Poemas [Néa Poiímata, 1974]. Alguns desses livros — mais tarde reunidos todos em Os Poemas de Melissânthi [Tà Poiímata tís Melissánthis, 1975] — foram distinguidos com prêmios literários, inclusive O Irmãozinho [O Mikrós Adelfós, 1960], uma peça de teatro para crianças. Morreu em 1990.
Hébe Koúyia Skandaláki, cujo nome literário era Melissânthi, nasceu em Atenas em 1910, onde fez os seus estudos. Passou algum tempo num sanatório da Suíça tratando-se de tuberculose, e de volta a Atenas dedicou-se ao magistério e ao jornalismo. Além da poesia, cultivou a música e a pintura. Traduziu para o grego poetas americanos (Robert Frost, Emily Dickinson) e franceses (Verlaine, Pierre Garnier). O seu livro de estreia, Vozes de Inseto [Fonés Entornou], é de 1930. A ele se seguiram, nos anos subsequentes, dez outros, entre os quais O Retorno do Pródigo [Gyrismós toü Asótou, 1936], Forma Humana [Anthrópino Sxíma, 1961], A Barreira do Silêncio [Tò Fragma tís Siopís, 1965] e Novos Poemas [Néa Poiímata, 1974]. Alguns desses livros — mais tarde reunidos todos em Os Poemas de Melissânthi [Tà Poiímata tís Melissánthis, 1975] — foram distinguidos com prêmios literários, inclusive O Irmãozinho [O Mikrós Adelfós, 1960], uma peça de teatro para crianças. Morreu em 1990.
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