ESPELHO DE ORFEU
Sua triste lira, Orfeu
não altera o fermento
nem faz para a amada presa na
jaula dos mortos uma cama de amor, um par de braços,
uma trança
quem morre morre, Orfeu.
O tempo tropeça em seus olhos
a lira quebra em suas mãos.
Vejo você despontar nas margens
cada flor é uma canção
a água é como a voz
escuto
vejo você como sombra
que escapa de seu centro
e se põe a girar...
ESPELHO DO GIRO
Extinto o fogo do giro depois do néctar da ferida e do
sonho
no leito da colheita
brilhou a paixão pelo mais alto, escalei meu anseio, subi
seu fogo, e saímos
do país do suor e do limo
no tapete diáfano da criação.
Hoje sou o aroma astral
me espelho, faço do tempo um espelho para captar meu
rosto adivinho
para captar o dia afiado, como o íntimo, para conquistar
para encantar as distâncias e as margens.
[ADONIS poemas, São Paulo, Companhia das Letras, 2012, seleção e tradução do árabe Michel Sleiman, pp. 130-131].
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