sábado, 20 de junho de 2015

D. H. Lawrence

VI

Ser ou não ser ainda é a questão.
Esse desejo ansioso de ser é a fome fundamental.
E para mim mesmo eu posso dizer “quase, quase, oh, por pouco”.
Mesmo assim alguma coisa perdura.
Alguma coisa não perdurará sempre.
Pois o essencial já é completude.

O que perdura em mim é para ser conhecido enquanto conheço.
Eu a conheço agora: ou talvez conheça minha própria limitação
em relação a ela.
Mergulhando como fiz, sobre, sobre a beira do abismo
caí finalmente de ponta-cabeça dentro do nada, mergulhando na
completa e áspera extinção;
cheguei, como se diz, ao não saber,
morri, como se diz; cessei de conhecer; superei-me.
O que posso dizer mais, exceto que eu sei o que é superar-me?
E um tipo de morte que não é morte.
E ir um pouco além dos limites.
Como se pode falar, quando há um silêncio na nossa boca?

Suponho que ela, finalmente, está completamente além de mim,
Ela é completamente não-eu, essencialmente.
É a isto que chegamos.
Uma curiosa agonia, e um alívio, quando toco aquilo que não sou eu
em qualquer sentido,
fere-me de morte com o meu próprio não-ser; limitação definitiva,
inviolável,
e alguma coisa além, muito além, se você compreende o que
significa isso.
E a parte maior do ser, este superar a si mesmo,
este ter tocado a margem do além, e sucumbir, e mesmo assim
não ter sucumbido.

[In William Blake & D. H. Laurence, Tudo que vive é sagrado, seleção, tradução e ensaios Mário Alves Coutinho, 2a. ed. , Crisálida, Belo Horizonte, 2010]

BY Brian Anstee


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