sexta-feira, 26 de junho de 2015

Dušan Matić

DIANTE DA TEMPESTADE

Que seja a noite novamente assim como desejais
Eu nada sei mais
Nada compreendo mais
À noite pegajosa e agroamarga só se aconchega
A noite e a noite e a noite.

Em vez do ouro e do mal e do bem e da parede de desespero
Que não tem mais fim e onde com a cabeça bato a cada instante
Um encantamento sem forma um entendimento sem grito
Pela longa noite que se aproxima
Um olhar e uma visão risível e turvieterna

Além do sangue que corre entre todas as dores e todas as dores
Não há altura que possa medir-lhes a profundidade.

Esquece tuas lembranças esquece teu esquecimento
Como o viajante esquece distraído o lenço na estação desconhecida
a ponte chagosa das chagas do mundo estende-se por sobre esses
[precipícios

Por sobre esse horror e barro
Em que se despedaça o hábito de luz em lágrimas irresgatáveis

Eis aí na clareira deste tremor sem fundo que eu vele e durma
Quebradiço e tristonho e só
Em nada me auxilia a audácia.

Dušan Matić - Poeta sérvio, nasceu em 1898, em Tchúpria e morreu em Belgrado, em 1979.

[In Poesia Iugoslava Contemporânea, prefácio, tradução e notas de Aleksander Jovanovic, São Paulo: Meca, 1987, p. 35]


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