Tronco a partir do nada na névoa te ergues
entre sombras e pessoas e assustados animais
Banhado pela raiva e pelos tremores de frios imemoriais
Ardes a lâmina de fios que se desatam
De chumbo e de sangue que se não deve esquecer
Das cobras do fogo e brotos de flor
Das cinzas e do deserto que nos espreita
Das destruições que até o mais valente teme
Do ferro forjado de que necessitamos
De furiosas noites em que nos tomam vulto os pais
Das lágrimas de moças amarradas pelas pernas
E cujos perfumes se erguem para o céu
Das neves que dia e noite sopram
Das cercas vivas que constroem o mundo e dos sanguinários cães
Dos trovões que assassinam flores
Dos céus e das águas que enlameiam
De nós próprios enquanto nos afastamos gradualmente
Daquilo que já fomos e não compreendemos
Dos pomares e das hortas no suave arco
Dos parvos que são obedientes ao sol
Das raízes que escavam e dos terrenos que se mudam
Dos animais dos viajantes que dançam descalços
No barro que se sedimenta interminável
[In Poesia Iugoslova Contemporânea, Prefácio, tradução e notas de Aleksander Jovanovic, São Paulo, Meca, 1987, p. 215]
Zoran Milić,
Nasceu em 1940, em Vrájogrntzi, próximo a Nich. Estudou nesta cidade,
depois em Belgrado e radicou-se, definitivamente, na capital iugoslava.
Publicou quatro coletâneas de poesias. Poeta alegórico, economiza palavras e hoje flutua entro a tradição e a Imagétlca contemporânea da poesia.
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