A PIEDADE
1.
Sou um homem ferido.
Quisera sair buscando
e finalmente alcançar
Piedade, onde se escuta
O homem que está só consigo.
Tenho apenas bondade e orgulho.
E me sinto exilado entre os homens.
Por isso mesmo sofro.
Não serei digno de tornar a mim?
Povoei de nomes o silêncio.
Despedacei coração e mente
para cair na servidão das palavras?
Reino sobre fantasmas.
Ó folhas secas,
alma levada aqui e ali...
Não, odeio o vento e sua voz
de besta imemorial.
Deus, aqueles que te imploram
não te conhecem mais que de nome?
Me expulsaste da vida.
Me expulsarás da morte?
Talvez o homem seja indigno de esperar.
Até a fonte do remorso está seca?
O pecado que importa
se já não conduz à pureza.
A carne se recorda apenas
que foi forte uma vez.
A alma se sente gasta e louca.
Deus, olha a nossa fraqueza.
Queremos uma segurança.
Já nem mesmo te ris de nós?
Sê compassiva, pois, crueldade.
Não mais suporto estar murado
no desejo sem amor.
Aponta-nos um traço de justiça.
A tua lei qual é?
Fulmina minhas pobres emoções,
liberta-me da inquietude.
Estou cansado de clamar sem voz.
[Henriqueta Lisboa, Poesia Traduzida, Reinaldo Marques e Maria Eneida Victor Farias, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001, pp. 255-257]
BY SABINE VAN DURMEN |
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