quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Giuseppe Ungaretti

.
A PIEDADE
1. 

Sou um homem ferido.

Quisera sair buscando
e finalmente alcançar
Piedade, onde se escuta
O homem que está só consigo.

Tenho apenas bondade e orgulho.

E me sinto exilado entre os homens.

Por isso mesmo sofro.

Não serei digno de tornar a mim?

Povoei de nomes o silêncio.

Despedacei coração e mente
para cair na servidão das palavras?

Reino sobre fantasmas.

Ó folhas secas,
alma levada aqui e ali...

Não, odeio o vento e sua voz
de besta imemorial.

Deus, aqueles que te imploram
não te conhecem mais que de nome?

Me expulsaste da vida.
Me expulsarás da morte?

Talvez o homem seja indigno de esperar.

Até a fonte do remorso está seca?

O pecado que importa
se já não conduz à pureza.

A carne se recorda apenas
que foi forte uma vez.

A alma se sente gasta e louca.

Deus, olha a nossa fraqueza.

Queremos uma segurança.

Já nem mesmo te ris de nós?

Sê compassiva, pois, crueldade.

Não mais suporto estar murado
no desejo sem amor.

Aponta-nos um traço de justiça.

A tua lei qual é?

Fulmina minhas pobres emoções,
liberta-me da inquietude.

Estou cansado de clamar sem voz.

[Henriqueta Lisboa, Poesia Traduzida, Reinaldo Marques e Maria Eneida Victor Farias, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001, pp. 255-257]

BY SABINE VAN DURMEN


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