domingo, 10 de novembro de 2019

Maria Gabriela Llansol


Quatro garotos com suas calças curtas, e de alturas 
Desiguais, disseram-lhes:
   Este é o ponto extremo de nossos corpos. -
   (...)
   Para além, deixamos de ser humanos.
Foram incapazes esses homens de subir para o 
Veículo da noite estrelada, facetado com o último 
Rosto das crianças. O próprio texto uivava sobre 
Seus pés. Nesse horizonte nenhum bicho rasgaria 
A paisagem, mas eram almas humanas girando 
Na sua aterradora liberdade.

///

 O amor tem dosagem.
Principia por ser um líquido escuro numa farmacopeia Abandonada. Espesso, espera ser dividido em porções
Mais líquidas, que o transformem numa poção de cura Homeopática. Um prazer curado que regressa
À fulgurância. Não desejo rapto
Mas santidade.



///

A santidade é o mais forte de todos os sentimentos
Verdadeiros.
O seu trabalho é de uma beleza aterradora.
A sua perturbação invade o peito deslumbrado sem que,
Todavia, oscile para além do tranquilo.
Dá oito horas
No relógio da cidade velha.
Por ser uma alegria que
Rejubila com a alegria que se aprofunda, ela as transforma,
As horas (digo), as cansa, as regenera.
No fundo do peito,
Abrigando-se sob sentimentos humanamente tão usados
(Que, todavia, cintilam) adquire a sua única certeza
A de um trabalho que se gera
Para além de qualquer contrariedade.

[Em O começo de um livro é precioso, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003]

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