terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Nelly Sachs

Morte
cântico de mar
banhando-me o corpo em volta
uva salgada
a atrair sede na minha boca —

Feres as cordas das minhas veias
até que elas cantando rebentam
desabrochando das chagas
pra tocar a música do meu amor —

Os teus horizontes em leque desdobrados
com a coroa dentada do morrer
já posta em volta do pescoço
o ritual da partida
com o som regougado da respiração
começado
abandonaste como um sedutor
antes do casamento a vítima enfeitiçada
despida quase já até à areia
expulsa
de dois reinos
já só suspiros
entre noite e noite —

[In Poesias, Tradução de Paulo Quintela, Estudo introdutivo de Joseph Bernfeld, Ilustrações de Jean-Michel Perche, Rio de Janeiro, Ed. Opera Mundi, 1975, p. 160]


2 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

Que os deuses me ajudem. Tanta beleza por aqui......falta me o ar

Obrigada. Mt.

isabel mendes ferreira disse...

A beleza . Quase insustentável. Mt Obrigada.

Beijo.

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...